21 de abr. de 2012

VASOS - COMPANHEIROS ETERNOS



       Para dar encanto à vida, Deus criou as plantas. Elas floresceram e frutificaram.  O homem, esse eterno insatisfeito, queria, porém, que as plantas crescessem onde só havia pedra e areia, dependendo de onde ficava sua caverna ou tenda. Alias, queria, inclusive, carregar suas plantas favoritas quando se cansasse do deserto e resolvesse mudar-se para as montanhas.
Percebeu que o barro (aquele mesmo do qual ele havia sido criado) era fácil de ser moldado, e, quando exposto ao calor do fogo, tornava-se duro como pedra. Estava inventado o vaso, companheiro inseparável do ser humano, desde que o mundo é mundo. Servia para tudo. Deixar água fresquinha, conservar o vinho, guardar coisas, e, claro, cultivar suas flores.
Nas primeiras tentativas, não deve ter dado muito certo, como tudo o que nós, humanos, fazemos. Mas, aos poucos, foi aprendido que, do local de origem da planta, também deveria ter sido retirada a terra para ser colocada no vaso; a incidência do sol deveria ser parecida; vez ou outra, um pouco de nutrientes deveria ser acrescido à terra; e jamais, sob hipótese alguma, poderia faltar um pouco de água.
Assim tem sido desde sempre. O formato dos vasos foi se modificando conforme a cultura na qual foram produzidos, refletindo gostos e modas desde as sociedades japonesas da antiguidade até os clássicos do renascimento, todos fazendo a alegria dos arqueólogos.
De formatos, tamanhos e materiais praticamente infinitos, os vasos encontram no paisagismo um grande momento. Completam entradas de casas e varandas, dando um colorido especial às residências. São essenciais em varandas de apartamentos, única maneira de conciliar natureza e cimento. E ficam simplesmente maravilhosos quando colocados juntos a canteiros, no meio do jardim.
Existe, contudo, um detalhe que, particularmente, me encanta nos vasos: tudo o que a gente coloca neles é passageiro. Em breve, as flores murcharão; a planta crescerá, demonstrando que o vaso ficou pequeno; qualquer que seja o ciclo, ele se cumprirá. Eu gosto é disto: da certeza de que a beleza das plantas vive no tempo, enquanto o vaso vive no espaço. Por um momento, eles se encontram e geram uma flor efêmera para demonstrar que somos todos feitos de barro, vivendo uma fração da eternidade.



Roberto Araújo
Revista Natureza, Ed. 291, Abril/2012